OPINIÃO: Seleção brasileira em coma. Que o Galo não siga o mesmo caminho

(Foto: CARL DE SOUZA / AFP)
(Foto: CARL DE SOUZA / AFP)

Coluna do Galo! Minha primeira lembrança da seleção brasileira é a Copa América de 1989. Lembro-me bem do emblemático gol de voleio do Bebeto, uma das suas marcas registradas, em uma vitória sobre a Argentina no Maracanã. Ainda não era tão fanático por futebol, naquela época era bem mais difícil de acompanhar.

No ano seguinte Copa do Mundo, me lembro da mobilização na favela, com bandeiras e becos pintados de verde e amarelo e ali comecei a entender o que era uma seleção, ao menos na teoria: um time selecionado pelos melhores jogadores do país, convocados por um treinador para representar nossa bandeira em amistosos e campeonatos internacionais. Entendi que nossa seleção era a mais respeitada do mundo e que cada convocação gerava uma grande expectativa tanto para os jogadores quanto para a torcida.

Aguardávamos para ver se tinha algum jogador do nosso time, aguardávamos para poder ver os jogadores que vinham do exterior, em uma época que a maioria ou boa parte dos convocados atuavam por aqui mesmo, sem tatuagens, dancinhas em redes sociais, chuteiras coloridas e etc. Sabíamos onde cada um jogava e conhecíamos antes mesmo do narrador falar o nome. As vitórias eram quase certas e seleções sem tradição eram quase sempre sacoladas. As seleções mais tradicionais respeitavam e se borravam de medo de enfrentarem o Brasil. Contra a Argentina? Partidas equilibradas e aquele jogo de pancadaria e agressividade, bateu tomou, dedo na cara, provocação e por aí vai.

Paulinho Galo
Paulinho do Galo Foto: Reprodução

Hoje em dia tudo mudou, e na seleção então nem se fala. Quando mostra os jogadores na TV, na maioria das vezes nem sabemos quem são. Saber o time em que joga então nem se fala. Se emperiquetassem todo e ainda em campo correspondessem beleza, mas tem sido uma vergonha atrás da outra. Quem vivenciou o clima de Copa do Mundo antigamente, não se empolga em nada com as atuais. Dentro de campo nossa seleção virou uma equipe mediana e descompromissada, vivendo de passado e sem expectativas maiores para o futuro, uma vez que está basicamente na mão de empresários e patrocinadores. A torcida perdeu um dos seus maiores patrimônios culturais, essa que é a verdade.

Observando o nosso Galo estamos fazendo um caminho perigoso. Já há algum tempo o time não faz um jogo raçudo, daqueles que os caras saem exaustos de campo. Até mesmo dentro das partidas não vemos os jogadores dividindo bola com aquela vontade e determinação que atletas limitados que vestiram nossa camisa demonstravam e compensavam dentro de campos. E nos últimos clássicos contra o nosso rival, principalmente no último vi algo que nunca vi nos clássicos que atravessaram a década de 90 e primeiros anos dos anos 2000: o Cruzeiro jogando com mais raça do que nós.

Atlético
Galo Doido Foto: Pedro Souza/ Galo

Os comentários sobre a torcida também não podem passar batido. Na maioria dos jogos o comportamento tem sido, digamos, mais apático. Gritar e torcer na maré boa nunca foi nossa praia, até porque maré boa sempre foi uns espasmos na nossa História. Sempre torcemos de maneira incondicional, mesmo sabendo que tínhamos times inferiores, a raça e a força da torcida sempre carregaram nosso time. A torcida sempre foi nossa principal identidade, percebida por atletas, comentaristas e até por outras torcidas.

Mas atualmente, os comentários não têm sido favoráveis. Elitização dos estádios? Não sei se a resposta seria só essa apenas espero que retornemos ao caminho que conduziu nossa História até aqui, de raça em campo e torcida inflamada nas arquibancadas. A seleção, já não faço questão de acompanhar mais, não me identifico com ela e tenho certeza que muitos têm o mesmo pensamento, mas por favor Galo, não me faça desgostar com o futebol! E dá-lhe Galo!